O projeto Espaço Cidadão Energia (ECE) surge no contexto da recente reforma RP-C21-r44, aprovada no âmbito da Reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Esta iniciativa visa criar estruturas de apoio local, especialmente direcionadas para populações vulneráveis, com o objetivo de empoderar os cidadãos na implementação de medidas de eficiência energética e energias renováveis, além de promover comportamentos energeticamente sustentáveis. O papel da Mindshake foi facilitar o processo de cocriação deste projeto.
Introdução e contexto do Projeto
Cliente: ADENE – Agência para a Energia.
Ano/Duração – 2024 / 4 meses
Categoria: Inovação para Políticas Públicas
Desafio/Briefing: Facilitar um processo de cocriação, com um conjunto muito variado de stakeholders, de um modelo funcional para os Espaços Cidadão Energia, estruturas locais de apoio que capacitam cidadãos, em particular os vulneráveis, para adotar práticas de eficiência energética.
Abordagem e métodos utilizados
Design Thinking e Future Thinking: Foram utilizados métodos de cocriação para garantir soluções centradas nas necessidades dos cidadãos e uma visão de longo prazo.
O processo foi dividido em quatro fases principais:
- Imersão no Contexto – Exploração e compreensão profunda do cenário energético e social.
- Idealização – Projeção de futuros cenários para o ECE.
- Cocriação do Modelo Base – Estruturação de um modelo de ECE alinhado com as necessidades dos cidadãos.
- Cocriação de Variantes – Adaptação do modelo base para diferentes contextos e territórios.
Principais resultados de cada Fase
Fase 1: Imersão no Contexto
• Atividades: Desk research, mapeamento de stakeholders (modelo Quintuple Helix), observação de campo e entrevistas qualitativas.
• Resultados: Identificação de perfis de cidadãos e stakeholders, definição do problema (“fraca qualidade de vida energética”) e criação da nova visão dos ECE: centros de capacitação para práticas sustentáveis e eficiência energética.
Fase 2: Idealização
• Atividades: Pesquisa de macrotendências, mapeamento de cenários futuros, e workshops de Future Thinking.
• Resultados: Criação de cenários futuros e de uma versão aspiracional para o ECE, o “Laboratório Cidadão Energia 2074”, que introduziu conceitos como microgrids e consultorias personalizadas com tecnologias avançadas. Esta fase visou inspirar uma visão inovadora e holística dos ECEs.
Fase 3: Cocriação do Modelo Base
• Atividades: Desenvolvimento de Personas, mapeamento de jornadas dos utilizadores, construção de um Business Model Canvas e prototipagem.
• Resultados: Definição de um modelo de negócios robusto, incluindo serviços, governança e financiamento. A proposta de valor enfatiza conforto energético, bem-estar social e acesso a incentivos financeiros. A materialidade dos ECE foi pensada em múltiplos formatos (Maxi, Medi, Mini e Móvel) para atender diferentes comunidades.
Fase 4: Cocriação de Variantes
• Atividades: Role play, mind mapping, criação de Service Level Agreements (SLAs) e plano de testes piloto.
• Resultados: Definição de variantes para adaptação dos ECE a diferentes contextos, com guias específicos para implementação. Estabelecimento de critérios e perfis desejáveis para os recursos humanos que atuarão nos ECE, focando no suporte técnico e empatia com o cidadão.
Reflexões e Aprendizagens
Inovação Social e Sustentabilidade: O projeto sublinha a importância de uma abordagem centrada no humano para a transformação da eficiência energética e o empoderamento cívico.
Desafios Identificados: A necessidade de envolver efetivamente populações vulneráveis e de desenvolver parcerias locais fortes foi uma lição e desafio importante.
Conclusões
Dois aspetos essenciais emergiram no processo e deverão orientar as próximas etapas e a implementação prática dos ECEs:
1. Cooperação e Ownership: A colaboração entre stakeholders, como autoridades locais, empresas de impacto social, membros da sociedade civil e investigadores, foi crucial para o êxito do projeto. Este envolvimento promoveu um sentido de responsabilidade partilhado, onde todos se sentiram comprometidos com os resultados. A criação de espaços de diálogo garantiu soluções inclusivas, refletindo as necessidades dos envolvidos. Este espírito de corresponsabilização deve ser mantido e fortalecido na implementação dos ECE, para assegurar sua evolução alinhada às realidades locais.
2. Flexibilidade e Adaptabilidade: A flexibilidade e a capacidade de adaptação foram chaves no processo de cocriação. Ajustar estratégias, rever abordagens e integrar feedback contínuo permitiu ao projeto focar-se na criação de balcões únicos para eficiência energética, ao mesmo tempo que incorporava elementos além dos requisitos formais. Esta abordagem dinâmica é fundamental para que os ECEs respondam às especificidades de cada território, assegurando relevância e eficácia a longo prazo. Uma mentalidade flexível é também útil para os futuros desafios na rede de ECE.
Expansão Futura: Em 2025, espera-se que 50 ECE estejam a funcionar em rede, com o apoio da ADENE.